Autopsicografia - 27/11/1930
Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor/
Finge tão completamente/
Que chega a fingir que é dor/
A dor que deveras sente/
E os que lêem o que escreve/
Na dor lida sentem bem/
Não as duas que ele teve/
Mas só a que eles não têm/
E assim nas calhas de roda/
Gira, a entreter a razão/
Esse comboio de corda/
Que se chama coração.
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